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sábado, 29 de agosto de 2015

Babilônia, a novela Frankenstein


E nesta sexta-feira (28/08) chegou ao fim uma das piores novelas das nove dos últimos tempos: Babilônia! Aquela que seria a grande produção para comemorar os 50 anos da Globo, se mostrou uma das maiores decepções do ano, com um saldo final pra lá de negativo e sem deixar saudades.


Babilônia estreou de forma excelente, com um primeiro capítulo muito bem amarrado e de tirar o fôlego. Logo de cara, fomos apresentados à explosiva rivalidade entre Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Glória Pires), duas cobras que estavam loucas para se picarem, e ao casal Estela (Nathália Timberg) e Tereza (Fernanda Montenegro), que deram um verdadeiro tapa na cara da sociedade. Sim, o público foi pego de surpresa quando as duas velhas senhoras trocaram um beijo longo e afável. E não parou por aí. Só na primeira semana teve um assassinato a sangue frio, mocinha sendo enganada por homem casado, Glória Pires passando o rodo em geral e indo pra cama com um homem diferente a cada capítulo, traições, prostituição, bastante cenas de sexo, corrupção, aborto, mãe dando tapa na cara da filha, filha dando tapa na cara da mãe, filho ameaçando matar pai... Ufa! A Família Tradicional Brasileira ficou em choque! E, consequentemente, passou a rejeitar a trama. De fato, Babilônia foi muito rejeitada no início pelos telespectadores mais conservadores, que criaram várias campanhas de boicote à trama. A evasão foi tão grande que o primeiro mês de Babilônia derrubou toda a boa audiência recebida pela sua antecessora no horário, Império, para a casa dos 20 pontos, um índice baixíssimo e jamais esperado para uma novela das nove.


Culpar o casal lésbico pela rejeição da novela é um grande equívoco. O grande erro, ao meu ver, foi exibir o beijo das duas logo no primeiro capítulo, sem deixar o público mais conservador se afeiçoar ao par. A cena foi linda e não merecia ser criticada, mas deveriam ter pensado nas reações dos intolerantes. As personagens, aliás, ficaram bastante tempo esquecidas e perderam a função, um tremendo desrespeito com as grandiosas intérpretes. Mais uma vez, culpar a homossexualidade pelo fracasso de Babilônia não tem o menor propósito! A novela é que pecou em erros cruciais que também afastaram  os telespectadores e explicam a queda brusca na audiência desde o início. 


Os autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga pareciam ter um enredo central primoroso, ao contrário dos fracos dramas paralelos. Entretanto, à medida que as semanas foram se passando, ficou nítido que o núcleo principal era tão limitado quanto os demais. A falta de um fio condutor, perfis atrativos e situações que prendessem a atenção do telespectador causaram o afastamento da maior parte do público. A novela perdeu o folego inicial já na segunda semana. Com todas as falhas expostas no roteiro e uma audiência preocupante, a Globo iniciou uma mega operação de salvamento: trocou logotipo, agilizou tramas, chamou o Silvio de Abreu para reescrever alguns capítulos, novas tramas foram criadas, outras foram jogadas no lixo, mudaram a personalidade dos personagens... O que deixou a produção ainda mais equivocada!


A transformação na trama da Alice (Sophie Charlotte), que seria uma prostituta, aceitando o esquema de Murilo (Bruno Gagliasso), foi a pior de todas. Aquela menina que enfrentou a humilhação da mãe revidando o tapa que levou no segundo capítulo ficou de lado. Alice virou uma menina chata, passiva, boazinha demais e ainda iniciou um romance sem sal com Evandro (Cássio Gabus Mendes). A personagem perdeu a força que tinha e ainda fez as pazes com Inês depois que a advogada quase morreu, anulando os bons conflitos que eram protagonizados por mãe e filha. Outro que também perdeu força foi Murilo. Se não fosse pelo "Quem matou?" na reta final, o personagem terminaria a trama sem função alguma. A mudança na personalidade de Evandro também foi percebida. O empresário canalha que transava com várias prostitutas sem se importar com a esposa virou um sujeito íntegro e honesto. Outra alteração equivocada foi a cura gay de Carlos (Marcos Pasquim). O personagem sempre aparecia olhando para outros homens e teria um romance com Ivan (Marcello Melo Jr.), mas, por medo de mais rejeição, mudaram totalmente a trama. Carlos Alberto se apaixonou pela mocinha, Regina (Camila Pitanga), e formou um triangulo amoroso com ela e Vinícius (Thiago Fragoso), mas com o tempo se tornou totalmente desnecessário na trama. Falando no Ivan, criaram um personagem aos 45 do segundo tempo para formar par com ele: Sérgio (Cláudio Lins). Marcello Melo Jr. veio ter seu merecido destaque bem perto do fim e com uma trama bem trágica: Ivan sofreu um grave acidente e ficou paraplégico! Beatriz deixou de ser ninfomaníaca e se apaixonou por Diogo (Thiago Martins), um romance que só prejudicou a força da vilã, tão fria e "devoradora de homens". E o que dizer de Regina (Camila Pitanga), a personagem mais rejeitada nos grupos de discussão da novela? De mocinha barraqueira e favelada, Regina do nada virou uma hostess educadíssima, de fala mansa, fina, sofisticada e, de quebra, ainda virou modelo! Foi difícil engolir todas essas modificações...


E a rivalidade entre Inês e Beatriz, que sempre foi o ponto alto da trama e prometia ser o embate do século, mais prometeu do que cumpriu. Pra começar, a história que os autores criaram para justificar a vingança de Inês foi muito mal elaborada: ela culpava a "amiga" pela morte do pai, que foi parar na cadeia após ter se envolvido com Beatriz (na época, menor de idade). Quando a advogada finalmente teve a chance de se ver cara a cara com a mulher que destruiu seu pai, em vez de dar início à sua revanche, negocia com a rival seu exílio em Dubai, mesmo tendo um vídeo que a incriminava. Não convenceu ela passar tanto tempo com seu ódio adormecido e só querer se vingar da rival dez anos depois. Pra piorar, o duelo de vilãs prometido virou um joguinho de Tom & Jerry que não acabava nunca. Inês e Beatriz passaram a trama inteira articulando uma contra a outra com planinhos bobos. Uma repetição chata demais! Apesar dos pesares que envolveu toda esta rivalidade, a inimizade das duas ainda foi uma das poucas atratividades do folhetim.


Em meio a tantos pontos negativos, o maior acerto de Babilônia está no núcleo de Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira), o prefeito evangélico, homofóbico e corrupto que se lançou no combate à "ditadura gayzista" e quis promover a cura gay na cidade de Jatobá. E, para isso, contava com o apoio da mãe, a preconceituosa Consuelo (Artele Salles), que costumava chamar Teresa de "sapa safada" ou "sapatosa (sapatão idosa)". É tanta hipocrisia reunida que chega a ser engraçado! Os personagens desse núcleo promoveram alguns dos temas mais relevantes do atual momento do nosso país (como a intervenção da religião na política, por exemplo), que receberam um tratamento interessante. Houve espaço para o humor nonsense acompanhado de crítica inteligente. Marcos Palmeira viveu um de seus melhores papéis na TV. E Arlete Salles esteve impecável e conseguiu divertir com as tiradas desta senhora que ama um "chiquê". Espero profundamente que Marcos Palmeira e Arlete Salles não sejam esquecidos nas premiações de final do ano por causa da péssima novela. Os dois carregaram, praticamente, a novela inteira nas costas!


E enquanto o núcleo de Aderbal conseguia divertir, o mesmo não se pode dizer do núcleo "cômico" de Babilôniaencabeçado por Maria Clara Gueiros, Gabriel Braga Nunes, Marcos Veras, Rosi Campos e Igor Angelkorte. Não havia graça alguma naquela história, que repetia as mesmas discussões à exaustão. Pra piorar, os autores juntaram Valeska (Juliana Alves), Clóvis (Igor Angelkorte) e Norberto (Marcos Veras) para reforçar o humor na novela, mas esse triangulo amoroso só piorou a situação (que já era crítica) e se tornou uma das piores partes da trama.

Há de se lamentar também a enorme quantidade de ótimos atores que foram desperdiçados na trama. Rosi Campos (Zélia), pra variar, foi esquecida mais uma vez. Débora Duarte (Celina) e Rogéria (Úrsula Andressa) entraram na novela sem a menor necessidade. Daisy Lucidi (Dulce) poderia ter sido substituída por qualquer outra figurante que não faria a menor diferença. Mary Sheila, que prometia como a preconceituosa dona de salão Ivete, mal apareceu. Entre outros.


Além de todos esses problemas citados, é necessário ainda mencionar o casal protagonista que não emplacou. Thiago Fragoso e Camila Pitanga não demostraram nenhuma química em cena. A trama que cercava o casal Paula (Sheron Menezzes) e Bento (Dudu Azevedo) era outra que não despertava interesse, assim como o súbito romance que surgiu entre Beatriz e Diogo (Thiago Martins), completamente impossível de se haver torcida pelo par (afinal, Beatriz matou o pai de Diogo e ele não sabia). O único casal interessante de Babilônia foi Laís (Luisa Arraes) e Rafael (Chay Suede). Um casal apaixonante e cheio de frescor que viveu um romance cheio de obstáculos e que os enfrentou com muita coragem. Os dois transbordavam química em cena.


Portanto, infelizmente, se constata que todas as mudanças feitas no enredo só prejudicaram ainda mais Babilônia. Gilberto Braga perdeu completamente o rumo de sua novela. A impressão que eu tive é que ele foi mudando tanto a novela que chegou num momento que sua sinopse original já tinha terminado e o autor já não tinha mais o que contar e foi criando uma sinopse diferente a cada semana pra terminar logo com a novela. Senti falta do selo Gilberto Braga de qualidade. Definitivamente, esse não é o mesmo autor de Vale TudoCelebridade! E de nada adiantou mudar toda a sua história. Babilônia fechou com uma média vergonhosa de 25 pontos (a meta do horário é 35), a pior audiência de toda a história das novelas das nove! Só a título de curiosidade, Em Família, tida como o maior fracasso das nove, teve média de 30 pontos! Sem falar que sofreu a humilhação quase que diária de perder para a novela das sete, I Love Paraisópolis, e, em dias muito ruins, perdeu também para Malhação, Os Dez Mandamentos (Record) e Carrossel (SBT) e encostou em Além do Tempo, Sete Vidas e na reprise de O Rei do Gado.


Nunca uma novela das nove sofreu tantas modificações no ar quanto Babilônia. Mal escrita e com problemas estruturais sérios, a trama foi a responsável pelo seu próprio fracasso. Ela perdeu identidade. Virou uma "novela Frankenstein", cheia de remendos e tramas mal costuradasO que estava ruim, ficou ainda pior! Talvez, os autores deram guarida demais para o telespectador ao deixar a opinião pública influenciar a trama original. Assim como eu, muitas outras pessoas gostariam de ter visto a real ideia dos autores. E não de outros telespectadores! Cada um gosta de uma coisa; se agrada um, desagrada outro. Não tem jeito. Uma história tem que agradar antes de tudo um telespectador especial: o próprio autor. Se o novelista não curte o que está escrevendo, a chance de fazer sucesso com alguém é mínima. E foi o que aconteceu com Babilônia, que tentou agradar todo mundo e, no fim das contas, acabou não agrando ninguém...


Minha nota para a novela: 4





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