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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Os Dez Mandamentos - Nova Temporada: o nosso 7x1 da teledramaturgia em 2016




Há exatos 2 anos, o Brasil inteiro parava perplexo na frente da TV ao assistir a mais inesperada e vergonhosa goleada da história do futebol brasileiro. Em plena Copa do Mundo de 2014, perdemos dentro da nossa própria casa para a Alemanha por 7 gols a 1. Dói até hoje na nossa alma. Mas o 7x1 foi pouco. E ele não está só no futebol. Está na teledramaturgia também.

Nesta segunda-feira (04), Os Dez Mandamentos – Nova Temporada chegou ao fim. Aleluia, irmãos! A novela até alcançou um bom patamar nos índices de audiência, entre 15 e 17 pontos. Porém, o resultado artístico ficou muito aquém de um resultado satisfatório. Sem dúvida nenhuma, foi a pior produção desde o início da aposta da Record em histórias baseadas na Bíblia. Durante três meses, a novela desfilou pela tela uma enrolação sem fim, numa trama mal elaborada, com personagens pessimamente desenvolvidos, atores nitidamente desmotivados, sem um pingo de emoção e vitalidade da sua temporada anterior. É o nosso 7x1 do ano na teledramaturgia! Confira os 7 pontos negativos e o único positivo dessa tosqueira.

1x0: Título equivocado


A novela já começou toda errada. Disposta a continuar espremendo o sucesso da saga de Moisés até o bagaço, a Record ludibriou os telespectadores ao não exibir a conclusão do momento em que Deus entrega a Moisés as duas tábuas da Lei, deixando-o para o primeiro capítulo desta nova fase. Só que esta nova fase não teve nada de "os dez mandamentos" e sim relatou o longo êxodo no deserto, que durou 40 anos segundo a Bíblia. Portanto, chamar esta história de Os Dez Mandamentos é um equívoco tremendo. Teria sido bem melhor se a novela tivesse terminado com a abertura do Mar Vermelho. Assim, ela fecharia o ciclo no Egito e teria iniciado outro nessa nova fase com a luta dos hebreus no deserto para chegarem à Terra Prometida. As leis, em si, por exemplo, foram abordadas superficialmente, tratadas quase sempre em segundo plano. Mas esperar coerência da Record é pedir muito, né?

2x0: Efeitos especiais toscos



Faltou apuro técnico para disfarçar os efeitos de chroma key, utilizados à exaustão nas cenas dos hebreus caminhando pelo deserto. Lembraram os toscos efeitos especiais da trilogia Os Mutantes, que, ao menos, era engraçada de tão tosca que era. A esperada cena da terra se abrindo e engolindo Corá que o diga (falei mais detalhadamente sobre isso AQUI).

3x0: Catequização excessiva


Ok, é baseado na Bíblia, mas poderia ter tido uma veia menos panfletária, né? A Record já é um canal que aposta no público religioso. Explicitar isso é complicado quando se tem pessoas que não são tão religiosas assim assistindo à trama. Uma novela bíblica precisa conseguir ser respeitosa à Bíblia e ao mesmo tempo fazer uma obra de ficção. Tem que ser entretenimento puro antes de tudo. Era como se a gente estivesse sendo catequizado a cada capítulo.

4x0: Besteirol



Nunca uma produção bíblica afrontou tanto as Escrituras. Quanta blasfêmia, Record! Uma história considerada sagrada deu lugar a tramas desinteressantes e sem noção. Que fique bem claro: adaptar uma história bíblica para novela criando novas histórias e personagens (como aconteceu na primeira temporada, que cativou com o puro e simples folhetim, porém, regado a muita história da Bíblia) é uma coisa; agora, fazer perder seu contexto bíblico, é outra coisa totalmente inadmissível. A autora Vivian de Oliveira pesou a mão no melodrama açucarado. Enquanto cozinhava em banho-maria o final da saga dos hebreus rumo à terra prometida, a novela se limitou a mostrar namoricos, rejeições, dúvidas sobre intenções amorosas, adultério, virgindade, casamentos, beijos, paqueras e disputas amorosas. Esse tipo de assunto tratado numa trama bíblica acabou descaracterizando-a. Virou um tremendo besteirol. Se ainda fossem boas histórias, eu até daria um desconto. Mas não. Essas historinhas de amor me deram sono.

5x0: Erros grotescos na escalação do elenco


NÃO PARECE, MAS É MÃE E FILHO!

Leila (Juliana Didone) e Bezalel (Igor Cosso), que interpretaram mãe e filho, poderiam facilmente interpretar um casal em outra novela. Ela, 31 anos (mas com rostinho de vinte e pouco), sendo mãe de um galalau de 25. No mínimo, surreal! E os exemplos não param por aqui. Rayana Carvalho, no papel de Adira, sendo mãe de Raya, cuja intérprete parece ser mais velha do que ela. Marcela Barrozo (Betânia) sendo mãe da atriz Ray Erlich (Talita), sendo que as duas tem (e aparentavam) a mesma idade. Erros crasos de escalação. O ator que fazia Calebe, Rodrigo Vidigal, foi substituído na passagem de tempo por outro, Milhem Cortaz, que, por sua vez, já havia participado da novela, como um vilão egípcio, Bomani. É a crise? Tá faltando ator?

6x0: Texto demasiadamente didático


Formal demais, reverencial demais, teatral demais, sofrível demais...

7x0: Produção amadora


A Record enche a boca para dizer que Os Dez Mandamentos é uma "super" produção, mas o que se viu na tela foi uma produção extremamente amadora. Isso porque cada capítulo custa cerca de R$700 mil, hein... A queda da qualidade da produção da primeira temporada para a segunda foi brusca. Os cenários do palácio do Rei Balaque (Daniel Alvim), com um ambiente escuro e artificial, comprovam tal assertiva. Os figurinos, adereços e objetos de cena pareciam recém-saídos da embalagem. Só faltava aparecer a etiqueta com o preço. Ficou super fake.


Aliás, tenho uma dúvida: já existia tinta para cabelo em pleno Egito Antigo antes de Cristo?!


Provavelmente, a Record deve ter gastado toda a verba dessa segunda temporada na abertura da terra e acabou faltando dinheiro para investirem em figurantes e maquiagem, porque só isso explica essa caracterização capenga e mal feita ao envelhecerem os atores. Para começar, basta observarmos o baixo número de figurantes. Não tem deixado de contar a história de Moisés com os poucos atores e atrizes, principalmente, quando é preciso mostrar a multidão peregrinando pelo deserto e nas batalhas contra os reinos inimigos. A impressão que deu é que os hebreus se resumiam em algumas dezenas de pessoas, quando, na verdade, eram milhares.

A falta de infra-estrutura ficou clara no penúltimo capítulo, com a dura batalha entre o exército israelita contra os soldados do Reino de Moabe. O campo de batalha foi uma vergonha. Primeiro, por causa do baixo número de atores envolvidos na luta. Era para ser um imenso campo de batalha com muitos soldados contra os homens hebreus, mas o que vimos foi um número baixíssimo de profissionais tentando dar emoção à cena. Segundo, porque faltou criatividade da parte do diretor Alexandre Avancini. Praticamente, todas as batalhas foram sequências bem longas em câmera lenta, marcadas por uma trilha sonora bastante pontuada e coreografia preguiçosa (os golpes eram quase sempre todos idênticos). E para piorar, uma batalha sangrenta não teve sequer uma gota de sangue. Mesmo quando alguém era ferido pela espada, mesmo quando ela entrava e saía da barriga dos soldados, mesmo quando algum hebreu caia no chão ferido pela lâmina, nenhum sangue foi visto. E não foi a primeira vez.


Mas o envelhecimento dos atores foi, sem dúvida nenhuma, o ápice do amadorismo e do constrangimento nessa nova temporada. Após a morte do vilão Corá e de meio elenco, engolidos pela terra após se rebelarem contra as ordens de Deus, a novela avançou no tempo em 38 anos. Obviamente, as crianças e os jovens cresceram e viraram adultos e os adultos de outrora se tornaram idosos. A produção, porém, achou que bastariam colocar perucas e barbas grisalhas nos homens, mechas brancas por toda a cabeleira das mulheres e os personagens idosos andarem curvados e recitarem o texto sussurrando para fazer jus à idade avançada e pronto, seria o suficiente para convencer o público da passagem de tempo. Só que não!

As hebreias podem ter envelhecido os fios, mas continuaram com a mesma cara de novinhas. Cadê as rugas? Cadê os traços faciais envelhecidos? Cade o pescoço, as mãos, os pés, enrugados? Os hebreus envelheceram, mas continuaram com o mesmo vigor físico de antes. Aarão, por exemplo, no auge dos seus 123 anos, teve forças para escalar um monte inteiro. Será que ele tomou a sopa mágica da Mamuska de Da Cor do Pecado? E o que dizer de Josué, o único do elenco que não envelheceu na trama? Incrível! Haja formol! E haja talco para tacarem na cara dos atores na tentativa (fracassada) de deixá-los parecendo anciões. Ficou medonho.

7x1: As exceções do elenco irregular



Denise Del Vecchio (emocionante como Joquebede do início ao fim, até na hora da sua morte), Petrônio Gontijo (Arão), Leonardo Vieira (Balaão), Larissa Maciel (Miriã), Marcela Barrozo (Betânia) e Victor Hugo (perfeito como o vilão-mor Corá) foram os únicos atores que se destacaram em meio a um elenco irregular e tiveram uma atuação acima da média. Quanto ao resto, alguns foram apenas medianos; outros, péssimos (como o canastríssimo Dudu Azevedo).


Que A Terra Prometida recupere o esmero perdido com o início da jornada dos hebreus à Canaã.

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