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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Brejeira e otimista, Eta Mundo Bom é a novela certa no momento certo




Você, que, assim como eu, é brasileiro e vive no país, já deve ter notado: é um verdadeiro teste psicológico de uns tempos pra cá passear pela TV aberta por cinco minutos sem ter a sensação de que o mundo está acabando e de que no Brasil tudo vai acabar especificamente em crise.

Frente a crise política e social pela qual atravessa o país, o principal motivo apontado por muitos para a rejeição de tramas como Babilônia e A Regra do Jogo foi o excesso de realidade. O telespectador foi acusado de não querer ver na novela das nove nem a realidade nua e crua dos telejornais, nem a repetição da fórmula mau-caratismo/favela carioca/degradação dos valores morais. Mal acabava o Jornal Nacional e, quando o público pensava que iria relaxar e tentar fugir dos problemas do dia a dia por alguns minutos, lá vinha outra vez na telinha derramamento de sangue, tiroteio, chantagens, corrução em todos os setores da sociedade, mortes violentas, bandidos de colarinho branco, tráfico de drogas, facção criminosa...

Neste cenário, Eta Mundo Bom Ã© a novela certa no momento certo. A atual novela das seis cumpre bem com o seu papel de levar um pouco de diversão, respiro e otimismo para os telespectadores num momento tão conturbado. Com média (até o momento) de 27 pontos na Grande São Paulo (que tende a aumentar ainda mais agora que ela está na reta final), é a novela mais vista do horário desde O Profeta, de 2006, atingindo índices impressionantes na casa dos 30 pontos e tornando-se, quase que diariamente, o produto mais assistido da TV brasileira atualmente (posto este que deveria ser da novela das nove). Um verdadeiro fenômeno!


Afinal, "tudo que acontece de ruim na vida da gente é pra melhorar". Foi com esse discurso de esperança e fé em um futuro melhor que Candinho (Sergio Guizé) e vários outros tipos carismáticos conquistaram o público. Para ele, não tem tempo ruim. Todas as dificuldades são dribladas com bom-humor e otimismo. Afinal, todo mundo tem problema. Alguns mais, outros menos. A vida de Candinho não é fácil, mas ele é um exemplo de pessoa positiva em relação aos percalços que aparecem pelo seu caminho. Não desanima e nunca perde a esperança.

Não há novidade no enredo, nem na estrutura dramatúrgica de Eta Mundo Bom. É uma trama "mais do mesmo". O poder de atrair o telespectador está no carisma dos personagens. Eles são bem delineados dentro do maniqueísmo proposto: bom e mau, vítima e vilão, sem tipos ambíguos. O noveleiro não fica na dúvida entre amar ou odiar, torcer a favor ou contra.

Quem semeou generosidade e amor ao longo da trama, terá seu final feliz, assim como para aqueles que se redimirem e pagaram por seus erros, como Celso (Rainer Cadete), Diana (Priscila Fantin) e Araújo (Flávio Tolezani). Afinal, pelo menos na ficção, tudo acaba bem no final. Na contramão da bondade e do otimismo, personagens como Sandra (Flávia Alessandra) e Ernesto (Eriberto Leão) fizeram de tudo para conseguir uma vida de luxo e riqueza. O resultado de tantas maldades não poderia ser outro: castigo para os vilões. E para mostrar que a ambição não compensa e o que importa é ser feliz ao lado das pessoas que amamos, o sonho do poço de petróleo de Cunegundes (Elizabeth Savalla) se transformou, literalmente, em um banho de lama.

Walcyr Carrasco é craque no gênero comédia romântica caipira. Assim como a atual, O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta Alma Gêmea (as três de sua autoria) também foram fenômenos do horário das seis e batiam recordes de audiência. A azeitona no empadão é o humor brejeiro ao estilo das comédias familiares de Mazzaropi. Por mais previsíveis que sejam as situações e piadas, o riso sai espontâneo devido ao envolvimento afetivo entre a novela e seu espiador.

Afetividade esta que gera fidelização. Esse vínculo que transpõe a tela fria da TV faz o telespectador esquecer o controle remoto. Se está sendo entretido, por que mudaria de canal? Walcyr resgata o prazer de acompanhar uma novela do começo ao fim, sem pular capítulos. Hábito cada vez mais raro nos lares brasileiros. A caipirada liderada por Candinho prova que, mesmo após várias mudanças de gerações e costumes, ainda há numeroso público interessado em novela, desde que a mesma cumpra missão básica: divertir com leveza e despretensão.

E essa preferência do público por tramas mais leves e despretensiosas pôde ser comprovada também recentemente em Totalmente Demais e Os Dez Mandamentos, duas novelas escapistas que priorizaram situações tipicamente folhetinescas e sem a preocupação de inovar e foram fenômenos de audiência, respectivamente, do horário das sete da Globo e da Record.


Particularmente, "novelisticamente" falando, não acho Eta Mundo Bom esse filé mignon todo. Ã‰ bonitinha, bobinha, divertidinha, fofinha... É tudo muito "inha" demais. A novela teve um período inicial pra lá de arrastado e "barrigudo", em que nada de muito interessante acontecia e situações que se repetiam demais. Só não caiu na chatice graças ao divertidíssimo núcleo caipira, o grande destaque da novela desde o início (como falei AQUI). Foi só a partir do reencontro entre Anastácia (Eliane Giadine) e Candinho que a história sofreu uma guinada e passou a empolgar. Histórias, até então, adormecidas, como a do casal Gerusa e Osório (Giovanna Grigio e Arthur Aguiar), do cadeirante Cláudio (Xande Valois) e de Diana e Severo (Priscila Fantin e Tarcísio Filho), passaram a ganhar relevância e, finalmente, disseram a que veio.

Apesar de absurda e bem forçada a forma como Sandra conseguiu dar o golpe na titiiiiia (se Araújo precisava de dinheiro para realizar a operação de Cláudio, porque não pediu emprestado para Anastácia ao invés de roubar toda a fortuna dela?!), foi a partir de tal reviravolta que Eta Mundo Bom conseguiu entrar nos eixos e ganhou de vez a minha preferência. Esta cada vez mais envolvente, com muita ação, reviravoltas e vários ganchos, de tirar o fôlego. Acabamos nos acostumando com os vícios do autor (torta na cara, casamentos desfeitos no altar, gente arremessada no chiqueiro, o texto extremamente didático...) e de parte do elenco (como Rainer Cadete, Eriberto Leão e Flávio Tolezani, entre muitos outros, que dão um show de canastrice) e com a previsibilidade do enredo (ainda faltam duas semanas para a trama acabar, mas não precisa ser um gênio para saber com quem a Mafalda vai terminar e o final de cada personagem, né?). Nem mesmo a songamonga da Filó (Débora Nascimento), que cheguei até a pedir o impeachment dela como mocinha da novela (leia AQUI), incomoda mais tanto assim.

Isso tudo porque embarcamos na total despretensão da novela, deixando de lado o perfeccionismo e tão simplesmente nos divertindo com o universo criado pelo autor, cheio de tipos queridos e carismáticos, como Candinho, Pancrácio/Pandolfo (Marco Nanini), Anastácia, Pirulito (JP Rufino), Mafalda (Camila Queiroz), Cunegundes, Eponina (Rosi Campos), Zé dos Porcos (Anderson Di Rizzi) e Maria (Bianca Bin), que despertam a nossa torcida.

De qualquer forma, apesar de considerá-la apenas uma boa novela, Eta Mundo Bom merece todos os elogios. Afinal, conseguir chegar a quase 37 pontos em pleno horário das seis é um feito e tanto, né? Seja lá como for, em tempos de noticiário carregado de violência e escândalos das mais variadas origens, a trama virou um antídoto eficiente contra a soturna realidade.


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