Não perca nenhum dos nossos posts

terça-feira, 12 de abril de 2016

O Melhor e o Pior da Primeira Fase de Velho Chico



O capítulo de sábado (9/4) de Velho Chico encerrou a primeira fase da novela com um compacto com várias cenas sendo reprisadas. Um encerramento decepcionante, diga-se de passagem. Mas serviu para refrescar a memória do público ligada na história desde o início e também uma tentativa clara de fisgar o telespectador recém-chegado e não deixá-lo com a sensação de ter pego o bonde andando.

Quem assistiu a primeira fase da trama, além da linda fotografia, da trilha matadora e da direção primorosa, viu o show de atuação de atores veteranos e novatos. Se existisse uma categoria de melhor elenco nas premiações de TV aqui do Brasil, Velho Chico ganharia de lavada. Que elenco fabuloso! 


Nesses primeiros capítulos, aplaudi de pé a atuação de veteranos em cenas memoráveis. Em uma participação especialíssima no primeiro capítulo, Tarcísio Meira (Coronel Jacinto) nos lembrou porque é um dos monstros sagrados da teledramaturgia. Rodrigo Santoro, afastado dos folhetins há treze anos, fez seu retorno triunfal. Além de ser um profissional maduro e seletivo e ainda ter aquela pinta de bonitão, Santoro conseguiu despertar amores e ódios no público como um sujeito tão antagônico e cheio de conflitos internos como o protagonista Afrânio, um retrato da cultura coronelista regionalista. O ator ainda teve uma química arrebatadora com Carol Castro. Eu shippei o casal! Aliás, Carol viveu o seu melhor momento na TV até hoje. Iolanda foi defendida com profissionalismo pela atriz, que, agora, ganhou um novo status na carreira. Não que Carol fosse ruim antes. Mas é que ela precisava de uma personagem tão intensa como essa em que pudesse mostrar todo o seu talento.


Outros dois nomes femininos de destaque foram Fabiula Nascimento (Eulália) e Cyria Coentro (Piedade), que emocionaram do início ao fim na pele de duas mulheres tão batalhadoras e sofridas, sendo levadas à demonstração extrema de suas emoções. Principalmente, nas cenas em que se desesperaram com a morte do Capitão Rosa (Rodrigo Lombardi) e na da morte de Belmiro (Chico Diaz), maridos, respectivamente, de Eulália e Piedade. Um espetáculo! Rodrigo e Chico não ficam de fora e também deram um show de atuação com dois perfis que transbordavam integridade. Julio Machado teve poucas falas, mas nem precisava: ele atuava apenas com o olhar e o corpo. E arrasou. O Capataz Clemente chegava a dar medo. E não podemos nos esquecer de Selma Egrei. A atriz estava merecendo há tempos uma personagem que fizesse jus ao seu talento em novelas e ganhou a amargurada Encarnação, que mais parecia uma bruxa da Disney, tanto na atuação (exageradamente teatral), quanto na caracterização (com um figurino que não condizia com a época). De qualquer forma, foi uma licença poética muito válida. Para a nossa alegria, a matriarca dos de Sá Ribeiro seguirá na segunda fase com a mesma atriz, só que com uma caracterização mais envelhecida.


Mas foram os novatos que seguraram o rojão com coragem e talento, como se a atuação fosse tão simples como respirar. Foram momentos fortes, muitas lágrimas, suor e sangue para dar o pontapé inicial nessa saga. Marina Nery estreou com a responsabilidade de cenas quentes com Rodrigo Santoro, sofreu, viveu e morreu intensamente em apenas sete capítulos. E a novata não fez feio na pele de Leonor, esposa de Afrânio. Aliás, a história dela lembrou muito com a de Maria Santa, personagem da então estreante Patrícia França em Renascer (1993). Aplausos também para Julia Dalavia e Renato Góes. Nenhum deles é estreante, mas tiveram em Velho Chico a chance de encarar um desafio marcante (para eles e para o público) em papéis tão centrais e agarram essa oportunidade com unhas e dentes. Não era fácil se destacar entre um grupo que reuniu profissionais do calibre dos já citados, mas roubaram a cena e o amor de Tereza e Santo emocionou desde o princípio.


Achei ótima essa mistura de atores conhecidos do público, alguns deles raros na nossa TV (como Rodrigo Santoro), com novatos e profissionais escolhidos no Nordeste. Velho Chico entrou ontem (11/4) em sua segunda fase, dando lugar ao elenco fixo que ficará até o final da história, como Antonio Fagundes (Afrânio), Camila Pitanga (Tereza), Cristiane Torloni (Iolanda) e Domingos Montagner (Santo), entre outros. Espero que mantenham o ótimo nível dos atores da primeira fase.

De resto, Velho Chico foi tecnicamente/esteticamente perfeita (leia mais aqui). O texto foi um mero adorno nessa primeira fase. Se não tivesse, não faria falta. Foi tudo focado na expressão corporal e imagens. Palmas para a direção artística de Luiz Fernando Carvalho, o grande trunfo da novela.

Por outro lado, uma grande produção não basta. Penso que novela antes de mais nada tem que se preocupar em contar uma história que aguce o público. Quando os detalhes são maiores que a própria novela, é porque algo está errado. Em Velho Chico, a direção é maior que a novela. A história fica em segundo plano. História, aliás, que não foi lá essas coisas. Duas famílias rivais, um amor proibido e muita, mas muita morte. Não passava uma semana sem morrer alguém na novela. Quem reclamava da violência de A Regra do Jogo e aguardava um refresco se enganou, porque Velho Chico é tão violenta (e picante, tendo em vista as centenas de cenas de sexo) quanto. Só que rural e sem favela!



Particularmente, a trama ainda não me conquistou. Como eu disse uma vez atrás (leia aqui), Velho Chico exigiu muita paciência e atenção do telespectador nesses primeiros capítulos com um ritmo devagar e cenas arrastadas com poucas falas e ação. Acabou ficando tudo muito cansativo. Que nessa nova fase a novela foque menos em pirotecnia visual e apresente uma história mais envolvente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bora comentar, pessoal!

Poderá gostar também de

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...